Síndrome do coração partido. Se pode morrer de amor?

Data da publicação: 3 abril, 2020
Postado em: AMOR E RELAÇÕES

Todos conhecem, por experiência própria ou não, a expressão de ter o “coração partido” . O que é desconhecido, mas é facto, é que efetivamente existe uma síndrome de coração partido ou, em japonês, a síndrome de Takotsubo. Esta expressão, tão usada metaforicamente após um desgosto amoroso não é mais apenas uma metáfora para passar a ser uma questão fisiopatológica real . O fenómeno não é incomum e, por isso, foram realizados estudos de forma a perceber de que forma o desgosto de perder um amor pode ter consequências a nível fisiopatológico. Percebeu-se, por estudos na população, que há um risco maior de desenvolver arritmias cardíacas graves após a morte de um companheiro (sobretudo quando se tratam de companheiros de uma vida), nos primeiros dias após esse problema ter impacto emocional. Por esta relação entre o desenvolvimento de patologias cardíacas pelo estresse desencadeado por um desgosto emocional, é possível dizer que se pode morrer de um coração partido . Esta síndrome é mais comum em mulheres com idades superiores a 40 anos.

O que é a síndrome do coração partido

Este problema foi, durante muito tempo, considerado como sendo apenas uma doença psicológica, porém foi percebido que para além de mecanismos psicológicos estão associados mecanismos fisiopatológicos. A síndrome de Takotsubo, fisiologicamente falando, carateriza-se por uma cardiopatia , com um padrão de movimento do coração único, inexplicável e anormal. Porém apresenta como peculiaridade, o facto de ser desencadeada por fatores como o estresse que vão levar a uma descarga excessiva de catecolaminas na corrente sanguínea, entre elas a adrenalina, que gera um aumento do débito cardíaco sem que o miocárdio seja eficaz no bombeamento do sangue.. Esta cardiopatia vai afetar o músculo cardíaco ao nível do ventrículo esquerdo .

Causas da síndrome do coração partido

As causas desta síndrome são ainda desconhecidas, no entanto, especula-se que a estimulação do sistema nervoso simpático de uma forma exagerada seja o fator central na fisiopatologia desta síndrome. O estresse vai desencadear a libertação de adrenalina (um tipo de catecolaminas) na corrente sanguínea o que leva a um aumento da frequência cardíaca e da contratilidade ventricular , ou seja, vai fazer com que o coração trabalhe de uma forma acelerada. Neste caso de cardiopatia em específico, este síndrome é causado por tudo aquilo que pode machucar os sentimentos de alguém de forma intensa, gerando grandes problemas psicológicos no que diz respeito ao controlo desse sentimentos. Alguns casos são, por exemplo, a perda inesperada de alguém próximo(seja um companheiro ou familiares/amigos de grande proximidade), ou o fim de um relacionamento pelos mais variados motivos.

Sintomas da síndrome do coração partido

Esta síndrome manifesta-se com sintomatologia semelhante à de um enfarte agudo do miocárdio, sendo caraterizada sobretudo por dor torácica e dificuldade em respirar , podendo vir também acompanhada de síncope, náuseas, palpitações, palidez e hipotensão. Tudo isto vem coberto por um fator desencadeante- nem sempre assumido pela pessoa como sendo motivo de estresse naquele momento- desta sintomatologia sendo que este fator é ou o acontecimento do desgosto ou a recordação desse mesmo desgosto que leva alguém a perder uma pessoa a quem quer muito.

Há solução para esta síndrome?

Estudos já publicados indicam que o risco de morte por esta síndrome é maior entre o décimo quarto e o décimo oitavo dia após o evento desencadeador, sendo que ao final de um ano, dependendo do agravamento do estado a nível psicológico, é menos provável que a pessoa venha a ter arritmias cardíacas que levam a uma questão fisiopatológica real. Como “tratamento” para este problema, é aconselhada a prática de atividade física e a convivência com outras pessoas. Isto porque, se a fisiopatologia é desencadeada por fatores psicológicos, o melhor tratamento estará no cuidar desses fatores psicológicos de forma a que não agravem para uma condição que afeta um órgão tão vital como é o nosso coração.

Distinção entre a síndome do coração partido e um enfarte agudo do miocárdio

Esta síndrome do coração partido pode ser confundida com o enfarte agudo do miocárdio já que é caraterizada pela dificuldade dos ventrículos em bombear sangue corretamente para a circulação sistémica e pulmonar, manifestada por dor torácica e dispneia, e por que leva a alterações no electrocardiograma semelhantes às alterações percebidas aquando da ocorrência de um enfarte agudo do miocárdio. A única forma de distinguir os dois é através da realização de uma cineangiocoronariografia . No entanto, a síndrome do coração partido, como algo gerado por fatores sobretudo emocionais, é um síndrome transitório e cujo tratamento passa sobretudo pelo suporte hemodinâmico à pessoa que, de certa forma, está em fase de luto por desgosto e desgaste emocional.